domingo, 18 de maio de 2014

Um Estudo Sobre Caius Valerius Catullus

Iniciaremos neste texto um estudo sobre a poesia latina de Caius Valerius Catullus (vulgo Catulo) e sua obra 
Carmina, dedicada ao historiador Cornélio Nepos, uma coletânea de 116 poemas que se dividem em três grupos. O primeiro deles compreendem os sessenta primeiros poemas, curtos e livres; o segundo grupo composto por oito poemas longos e o terceiro grupo compõe-se por quarenta e oito poemas compostos por epigramas.O poeta redigiu sua obra na era pré-cristã e teve breve existência vindo a falecer  precocemente.
Em seguida será realizada a análise de um trecho de sua obra para que seja possível a sua compreensão, bem como os métodos utilizados para sua tradução.
Este trabalho compreende também a intertextualização da obra de Catulo com Manuel Maria Barbosa Du Bocage, mais conhecido por este último. Nascido em Setúbal em 15 de setembro de 1765 D.C. é considerado por alguns como um dos grandes precursores do Romantismo.
Vale ressaltar que alguns de seus poemas (principalmente os obscenos), são dúbios quanto à  autoria. Entretanto sua vida corrobora a existência deles em seu nome.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    Vejamos então:                                                                                                                                                   
    
Poème 28
Amabo, mea dulcis Ipsithilla,
meae deliciae, mei lepores,
iube ad te veniam meridiatum.
et si iusseris illud, adiuvato,
ne quis liminis obseret tabellam,
neu tibi libeat foras abire;
sed domi maneas paresque nobis
novem continuas fututiones.
verum, si quid ages, statim iubeto:
nam pransus iaceo et satur supinus
pertundo tunicamque palliumque.(Catulo, Carmina, p.34)
                                                                                                                                  
Diante deste trecho, demonstrarei como é possível realizar mais de uma interpretação de determinado segmento, levando-se em conta questões contextuais e léxicas.
Observem a seguinte tradução de José Paulo Paes:                                                               

Eu te peço, minha doce Ipsistila,
Delícia e encanto deste meu viver:
Convida-me a passar contigo a sesta.
Caso me convidares, cuida bem
De que não ponham tranca em tua porta
E não te dê vontade de sair.
Fica em casa, tranqüila, preparando-te
Para nove trepadas sucessivas.
Se preferires, vou agora mesmo:
Almocei bem e ora farto, ressupino,
Furo, de impaciência, túnica e toga.

Agora o mesmo trecho por Nelson Ascher:

Desejo-te, Ipsistila, que me chames
esta tarde aos deleites delitos
de teu leito porém cuida que outro
não bata logo à porta e minha cara
não saias pois, mas te preparas para
nove rounds e tesão ininterrupto
caso queiras convida-me depressa
pois almoçado curto a minha sesta
agora aqui deitado em devaneios
com meu pinto a varar cueca e calça.

E por último outra interpretação de João Ângelo Oliva Neto:

Peço, minha boa Hipsistila,
minhas delícias, meus encantos, pede
que eu vá dormir junto contigo a sesta.
E se pedires cuida disto: que outro
não introduza entraves na portinha
nem queiras tu sair por aí fora.
Mas fica em casa, preparando para
nós umas nove contínuas trepadas.
E se algo fores fazer, chama logo,
que almoçado, deitado, e satisfeito,
tanto túnica eu furo quanto o manto.

Como é visível há variações nas traduções. E o questionamento vem-nos à mente, por quê?
Há diversos fatores que possibilitam isto.
Partimos do princípio que no Latim cada palavra possui uma variação de acordo com sua posição em relação às outras. Não muito diferente do português que desta se originou, esta possui classes divisoras, chamadas de Casos dos quais:

Nominativo
Na oração ele é o sujeito, o que executa a ação.
Vocativo
Sempre acompanhado de vírgula seja antes, seja depois ele indica chamamento ou apelo.
Genitivo
Correspondente na nossa língua ao Adjunto Adnominal Restritivo.
Dativo
É o Objeto Indireto da oração.
Ablativo
Correspondente aos nossos Adjuntos Adverbiais.
Acusativo
Por fim este é o nosso atual Objeto Direto.

Analisemos um pequeno trecho, então:
Amabo, mea dulcis Ipsithilla,

Seguiremos a análise de uma palavra em particular:

Amabo
Segundo o Dicionário Latino Português de Francisco Torrinha esta palavra nesta forma significa, por favor, por mercê, sendo então uma expressão de cortesia. É notável como as possibilidades de tradução variam de acordo com toda a informação prévia do tradutor e sua intenção ao traduzir. Podemos observar então esta variação “Eu te peço/ Desejo-te/ Peço” da própria palavra “amabo”. Verificamos também a oscilação no que tange o nome da musa do autor na qual consta: Ipsistila e Hipsistila para o nome original Ipsithilla.

Observemos agora como o texto de Catullo se cruza e intertextualiza com o texto de Bocage nascido séculos depois.

O texto de Bocage é traduzido por Glauco Mattoso antigo escritor e desenhista de histórias em quadrinhos na década de 80, às quais retinham a alcunha de malditas e hoje são consideradas por alguns, verdadeiros clássicos à frente de seu tempo. Segue então:

XLIX [SONETO DA MOCETONA PUDIBUNDA]

Levanta Alzira os olhos pudibunda
Para ver onde a mão lhe conduzia;
Vendo que nela a porra lhe metia
Fez-se mais do que o nácar rubicunda:

Toco o pentelho seu, toco a rotunda
Lisa bimba, onde Amor seu trono erguia;
Entretanto em desejos ela ardia,
Brando licor o pássaro lhe inunda:

C’o dedo a greta sua lhe coçava;
Ela, maquinalmente a mão movendo,
Docemente o caralho me embalava;

“Mais depressa”- Lhe digo então morrendo.
Enquanto ela sinais do mesmo dava;
Mística pívia assim fomos comendo.

Percebe-se então por este pequeno texto que a mesma eroticidade e lascívia contida em Catulo, são revistas com tons mais pesados, beirando a pornografia pelo Bocage, que tanto é famoso por sua poesias de natureza mais romântica (no sentido leve da palavra).

Podemos concluir então que apesar de tantos anos e tantas revoluções entre eles, certos conceitos acabam se inserindo no nosso cotidiano de modo imperceptível (ou não), se refazendo a cada era.

Deixo uma proposta então:
Persigamos a originalidade. Ela pode estar escondida por aí...

Fontes:
Dicionário Latino Português/Francisco Torrinha/Gráficos Reunidos LTDA

terça-feira, 13 de maio de 2014

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

CARPE NOCTEM


Aproveite a noite
E seus açoites
Aproveite o tédio
Ao qual não parece haver remédio
Aproveite a solidão
E este vazio que se instala no coração
Aproveite o frio
E este pranto que corre qual denso rio
Aproveite o amor
E a rejeição que nos enche de pavor
Enfim...Permita-se sentir
Sem medo de mentir ou assentir
E se és ainda capaz de sorrir,sorria
Pois nunca se sabe ao certo
Se veremos um novo dia... By Nestor Alves

Carapicuíba,19/02/2014
05:03


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Para purificar...relax...

 ''Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito.” William Blake

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Liberdade?! - Um Ensaio (trecho)

''O homem esta condenado a ser livre'' assim dizia Sartre.
Mas  será realmente a liberdade uma dádiva?!Qual o preço pago pelo livre arbítrio?

Se partirmos do princípio de que todo ato gera uma consequência,devemos deduzir
que o fato de tornarmo-nos  livres (pois isto implica uma ação) desencadeará uma
série de eventos.E nem todos positivos.
Vejamos porque esta não é uma visão obscura e negativa sobre a liberdade,mas tão
somente,uma tentativa de lançar luz por sobre este conceito,tão replicado a todo
momento e tão pouco compreendido.

Somos realmente livres?
O que entendemos por liberdade?

A palavra por si só nada acrescenta,nada explica além de seu próprio sentido
filológico.Pois então para que possamos desvendar o mistério por trás deste termo
devemos inicialmente compreender o que é a não-liberdade.
Nos é informado desde a mais tenra idade(Nos tempos atuais,é claro!)que já nascemos livres.
Mas será mesmo isto verdade?

Dentro do sistema capitalista no qual vivemos,ao menos,isto é uma utopia.
Um mero desejo inalcançável.
Vivemos presos a anseios e angústias materialistas impulsionadas pela máquina do Estado.
Sufocados pelas mãos de tiranos que se revestem de benfeitores.
Estamos presos então??
Sim.Vivemos...Não!Na verdade sobrevivemos sem perspectiva exceto a de nos repetir.
Se somos parte da Burguesia,assim permanecemos até o fim explorando o mais fraco até o fim em sua
maioria.
Se proletariado assim segue a grande maioria dos Brasileiros com um salário de fome e um
futuro devastadoramente amargo.Qual a liberdade então?

Bom...Este é o princípio do saber...A dúvida.
Olhando por este prisma já é possível observar que não nascemos tão livres.
Porém é inegável que ha como quebrar estes grilhões que este condicionamento diário
nos impôs...   By Nestor